Discriminação e Abuso: as Redes Sociais como Palco e Arma no Combate
As redes sociais são um poderoso instrumento para mobilizar cidadãos. Infelizmente, os cidadãos por vezes mobilizam-se em torno de más intenções. Há muito que as redes sociais são palco para conversas e ataques discriminatórios.
Empresas como a Google, Facebook e Twitter há muito que trabalham os seus algoritmos para detetar e remover referências discriminatórias. No entanto, os grupos organizados encontram sempre forma de, pelo menos por algum tempo, contornar estes filtros e fazer ecoar nas redes o seu ódio e os seus pontos de vista radicais.
Depois dos parêntesis triplos usados para destacar o passado judeu de uma determinada pessoa, o Alt-Right criou um léxico próprio onde, através de palavras aparentemente inócuas, continuam os seus ataques. O vocabulário criado por este grupo de direita extremista inclui referências a pessoas de raça negra (“googles”), judeus (“skypes”), latino-americanos (“yahoos”) e muçulmanos (“skittles”).
A utilização de palavras destas dificulta bastante a triagem mesmo para os poderosos e bem treinados motores de pesquisa das gigantes tecnológicas.
Em 2013, no México, o Consejo Nacional para la Prevención de la Discriminación (Conapred), a agência Ogilvy México e o Museo de Memoria y Tolerancia lançaram a iniciativa “Tweetbalas: Palavras que Ferem“.
Na altura, foi criado um algoritmo através do qual se identificavam tweets contendo palavras discriminatórias. Por cada cinco destes tweets, nas instalações do Museo de Memoria y Tolerancia era disparada uma bala de tinta contra as letras suspensas que compõem a palavra “México”.
Através da Internet era possível acompanhar esta iniciativa em tempo real através de uma câmara que filmava a parede e que, ao mesmo tempo, permitia selecionar uma mancha de tinta e ver os tweets que lhe deram origem.
Mais recentemente, com uma abordagem mais simples mas talvez até com mais impacto, a ONG Criola lançou no Brasil a campanha “Racismo Virtual Consequências Reais”.
Os exemplos acima mostram como as redes sociais podem ser usadas para disseminar discriminação e como as pessoas estão a usar o offline para denunciar o que se passa nas redes sociais. Mas há também exemplos de como as plataformas sociais são usadas para denunciar os ataques que se passam no offline. É o exemplo de projetos como o Chega de Fiu-Fiu, o Sai Pra Lá e o #EuEmpregadaDomestica.
Este última consiste numa página de Facebook onde Joyce Fernandes publica testemunhos de abusos e discriminação enviados por empregadas domésticas.
Online como offline, são inúmeros os exemplos de bem e de mal. As redes sociais transformam-se em poderosas plataformas para disseminação de ódio, mas também em fantásticas armas de luta contra essa realidade. Precisamos de ainda mais exemplos positivos, capazes de calar os mais céticos e de inspirar aqueles que querem, efetivamente, contribuir para uma sociedade melhor.
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