Política, tecnologia, marketing e inovação
Sinto-me privilegiada por ter tido a oportunidade de participar em quatro inspiradores eventos nas últimas semanas. Partilho agora alguns pensamentos e observações que deles decorreram.
A tecnologia foi tema em todos eventos. De robots a redes sociais corporativas, de call centres a aplicações móveis para controlar o batimento cardíaco, ouvi de tudo um pouco. Achei curioso, por isso, que em três dos eventos – o “Admirável Mundo Novo” (Porto), as “Conferências do Estoril” e o “Organización 2.0” (Vigo, Espanha) – três oradores tenham comentado que, embora o desenvolvimento tecnológico e a inovação tenham transformado tantas áreas, esse poder de transformação não tenha chegado à Política.
“Nada mudou aí”, disse Moisés Naim nas Conferências do Estoril (uma intervenção da qual já falei aqui)
a lot of disruption in many areas except in politics, says @edans at #APTEvigo2015 Echo of what I heard at #AMNOVO2015 & #confestoril #cid20
— Ana Neves (@ananeves) 16 junho 2015
Apesar de algumas honrosas tentativas, com resultados aquém das expetativas ou ainda por descobrir, estamos para assistir a uma mudança concreta e sustentável na forma como fazemos Política e na forma como os cidadãos se relacionam com a Política e os políticos. Neste último ponto, por exemplo, confesso que fico sempre espantada com a força dos sentimentos negativos que tantos reservam para o Governo e até mesmo para os serviços públicos. Tive mais um exemplo recente durante o evento organizado pelo INA: “Tecnologia e Cidadania: a AP à distância de um clique”. Em resposta a uma clara apresentação de Fernando Carvalho da Autoridade Tributária e Aduaneira, três participantes usaram o tempo de debate para fazer críticas exaltadas aos serviços daquele organismo público.
Empathy is now brought up by @elsua now at #APTEvigo2015 This topic came up a few times at #AMNOVO2015 It’s key. Yet, I see a lot if apathy — Ana Neves (@ananeves) 16 junho 2015
Neste contexto dou ainda mais razão a John Stewart que, durante a sua intervenção nas “Conferências do Estoril“, tanto valorizou o desenvolvimento de inteligência emocional desde tenra idade. Dou razão também a um outro tipo de soft skills cuja relevância atual e futura foi sublinhada por Tyler Cowen no evento “Admirável Mundo Novo”. Será vital desenvolver capacidades de persuasão e marketing no sentido de criar mensagens e narrativas que conquistem a atenção das pessoas. Talvez conseguíssemos criar uma melhor dinâmica relacional entre cidadãos e Administração Pública se fossemos capazes de conceber mensagens empáticas que, através de canais apropriados, chegassem verdadeiramente aos cidadãos dando-lhes a conhecer o dia-a-dia dos serviços públicos.
In the future the key skills will be about grabbing people’s attention – #marketing & #persuasion, @Tylercowen #AMNOVO2015
— Ana Neves (@ananeves) 12 junho 2015
Creating “Messages and narratives that cut through the clutter and grab people’s attention” is key, @tylercowen #AMNOVO2015 — Ana Neves (@ananeves) 12 junho 2015
E já que falamos em competências e, de alguma forma, em formação para a criação das mesmas, estabeleço também a ponte para algo que ouvi durante os intervalos de um dos eventos e que se prende com a criação de hábitos de cidadania logo na escola primária (1º ciclo).
Outro tema que me despertou bastante interesse foi oferecido por Andrew Chadwick.
On stage is @andrew_chadwick defending the role of combining new and traditional media in citizens’ decision making on politics #AMNOVO2015
— Ana Neves (@ananeves) 12 junho 2015
Mais uma vez a questão da comunicação mas desta feita olhada pelo prisma dos canais e, mais concretamente, de como a mistura de canais tradicionais (como a comunicação social, por exemplo) com as redes sociais podem abrir mais as portas à participação e envolvimento dos cidadãos nas questões políticas e sociais.
Finalmente uma nota para uma opinião partilhada por Evgeny Morozov durante o “Admirável Mundo Novo”.
.@evgenymorozov: we need to look at technology politically because, as it stands, it’s being modeled through economic interests #AMNOVO2015
— Ana Neves (@ananeves) 12 junho 2015
Confesso que nunca tinha pensado nas coisas desta maneira mas parece-me fazer bastante sentido. Não acredito que o desenvolvimento tecnológico e a inovação possa, ou deva, ficar a cargo do setor público. No entanto, é vital que os Governos sejam capazes de estar um passo à frente, inovando, pensando nos possíveis caminhos que a inovação irá tomar, criando (bases para) políticas adequadas, etc.. Iniciativas como o Futurium são um exemplo mas talvez haja outras formas e iniciativas capazes de ir mais além.
Não consigo ainda abraçar a total dimensão nem o total impacto desta ideia de Evgeny Morozov. Creio, porém, que vai habitar o meu pensamento nos tempos mais próximos.
2 Comentários
[…] verdadeiramente aos cidadãos dando-lhes a conhecer o dia-a-dia dos serviços públicos», referiu Ana Neves após a intervenção de […]
[…] In both events Ana Neves heard speakers mention that, despite innovation and technological development, Politics seems not to have changed. “I do not believe technological development and innovation can, or should, be led by the public sector. However, it is vital that Government manages to stay one step ahead, innovating, considering possible future scenarios, and creating appropriate policies”, says Ana Neves. […]