Informação de qualidade é precisa
As notícias falsas, do inglês fake news, são um problema de que recentemente muito se tem falado. Tratam-se de notícias fabricadas para deturpar a realidade ou para desviar a atenção das pessoas; são publicadas em sites aparentemente legítimos e divulgadas através das redes sociais. Pelo seu teor controverso ou pelo tom sensacionalista dos seus títulos, acabam por se alastrar rapidamente, apanhando muitos desprevenidos.
Como tão bem retratado num recente artigo da Wired, a indústria das notícias falsas alimenta pessoas cujo rendimento vem inteiramente de criar e disseminar estas notícias. Mas na sua ânsia e necessidade de capitalizar, estas pessoas abstêm-se de considerar o enorme impacto social, económico e político das suas ações.
As notícias falsas podem ter sido, em parte, responsáveis pelos resultados surpreendentes das eleições norte-americanas. Isto porque, como os próprios “autores” notam, há determinados grupos da população que são mais propensos a acreditar nesta “desinformação”. E são esses grupos que, nas últimas eleições, acabaram por mostrar a sua preferência pelo candidato republicano Donald Trump.
Para além das notícias falsas, contudo, existe uma outra grave situação que põe em risco o nosso direito a uma opinião própria e informada. Esta situação resulta da forma como muitos sites da Internet, nomeadamente algumas redes sociais e motores de pesquisa, filtram ou ordenam a informação de acordo com a nossa atividade anterior ou com a atividade da nossa rede de “amigos”. Com o objetivo de proporcionar uma melhor experiência de utilização, nomeadamente aumentar a relevância da informação que nos é apresentada, os algoritmos criados acabam por condicionar a diversidade de opiniões a que somos expostos.
Entre notícias falsas e notícias filtradas, torna-se assim muito difícil a participação informada dos cidadãos na vida social e política. Em resposta, começam a surgir iniciativas cujo propósito é minimizar o impacto destas notícias.
Por altura das últimas eleições presidenciais em França, o jornal Libération disponibilizou um serviço de pesquisa operado por jornalistas – CheckNews. Com um tempo médio de resposta de 2,5 horas, o jornal assumiu tratar-se de um serviço lento mas a alternativa fiável e capaz de apresentar resultados fiáveis e factos verificáveis.

Check News: o serviço de pesquisa que o jornal francês Liberation disponibilizou durante as últimas eleições presidenciais em França
Em finais de 2016, o americano Krishna Kaliannan desenvolveu uma extensão para o Google Chrome com o propósito de “rebentar a bolha” informacional em que as pessoas se encontram. De acordo com a explicação disponibilizada no site do Escape Your Bubble as pessoas indicam se pretendem ficar a conhecer melhor os argumentos republicanos ou os democratas.

É possível escolher qual o partido cujos argumentos e pontos de vista se pretende ficar a conhecer em mais detalhe
Depois disso, e com a extensão ativada, de cada vez que visitarem o Facebook, ser-lhes-á apresentada uma notícia que reflita o ponto de vista do partido que selecionarem.
Para não fazer a balança da imparcialidade pender para o outro lado, só será apresentada 1 notícia de cada vez. Esta estará devidamente assinalada e provém de fontes informativas reconhecidas pela sua qualidade. São notícias selecionadas “manualmente” por um grupo de voluntários que as categorizam como apresentando argumentos mais alinhados com o partido republicano ou com o democrata.

Como as notícias selecionadas pelos voluntários do Escape Your Bubble são apresentadas na timeline no Facebook
Incentivar o surgimento e apoiar o crescimento de projetos como estes são os objetivos de uma das mais recentes iniciativas da Knight Foundation. Em conjunto com o Democracy Fund e com a Rita Allen Foundation, selecionaram 20 projetos para beneficiar do Knight Prototype Fund e reduzir a “desinformação”. Os projetos incluem formação para que jovens e professores saibam navegar melhor pelo mundo da informação online, conceitos de visualização de dados para que os factos sejam mais memorizáveis, deteção de bots geradores de notícias falsas, etc.
Preocupa-me que muitas das iniciativas e opções tenham maior impacto junto das pessoas que atualmente até já terão mais apetência, qualificações e espírito crítico para (di)gerir as notícias e a informação que circula nas redes sociais. Ainda assim, é preciso agir rapidamente. Se for possível testar modelos e algoritmos com estas pessoas, estaremos mais perto e bem preparados para reduzir o impacto nefasto das notícias falsas e o efeito perverso dos filtros de “personalização” de conteúdo.
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